Ou pelo menos assim o parecia, no
mesmo dia em que o Kico chegou e me trouxe umas botas novas (e muitos outros
presentes e lembranças de Portugal). Choveu toda a noite e todo o dia.
Molhei-me da cabeça aos pés e fugi das poças de água. Mas não levei banhada,
desta vez. Apenas à noite. Queria muito ir ao Balkanic Festival que havia na
sexta, mas com o frio que apanhei senti-me doente e no dia seguinte, às 8h
tinhamos de estar prontos para levantar o carro alugado.
Chegámos ao local previsto e depois de
visto e revisto o carro, pago e assinado o contrato, experimentamos o GPS. Não
funciona. Reclamo. Troca. Não fuciona. Reclamo. Troca. Não fuciona. Reclamo
outra vez. É o último, é novo e vem ainda dentro da embalagem. Mas não
funciona. Reclamo e não há para a troca. Conclusão, não levamos o carro.
Voltamos para casa desanimados e
cansados, mas vamos pesquisar opções. Ligo ao chefe, peço mais um dia e
decidimos ir no dia seguinte. Assim ainda podemos descansar e, melhor,
espreitar o festival. ( http://balkanikfestival.ro/en
)
Ao ir para lá, ninguém nos sabe dizer
onde é e damos por nós em frente do parlamento, com um palco montado, mas gente
com um ar muito pouco alternativo e uma música demasiado parada. Ai Catarina,
se tu leres isto mulher, não me chames de burra, mas era o concerto de Leonard
Cohen... Ainda assim, preferimos ir espreitar o outro evento e, apesar de
atrasados, ainda nos divertimos um bocado.
No dia seguinte de manhãzinha,
partimos rumo aos Maramures.... 1500 km fizemos nós estes dias.
E quem vai a Sapanta, seus males
espanta.
É a maior atracção turística desta
zona.
O Merry Cemetery é, para quem percebe, uma graça. Com as cruzes
sobre os túmulos em azul, porque é a cor do céu, para onde vai a alma, tem uma
descrição anedótica da vida ou morte de cada pessoa, escrita na primeira
pessoa. Pretende tirar o peso da morte e dar alegria ao que foi a vida. Pena
tudo estar escrito em romeno e não podermos entender nada. Ainda assim, vale o
passeio.
Valeu-me bem o meu casaco urso e as
minhas novas galochas da Decathlon...o frio fez-se sentir e a chuva não veio
meiga. E dizem que pode até nevar em Bucareste no fim do próximo mês (e isso é
que era...mas agora, desconfundam-me de novo porque hoje andei de T-Shirt e com
calor de novo...)
Mas os Maramures não me conquistaram.
O tempo não ajudou, o cansaço também não.
A ida para lá levou-nos o domingo
inteiro. Pela mesma estrada que fiz da última vez para Cluj, o Kico pôde ver a
beleza no meio dos Cárpatos. E ainda vimos os seus picos branquinhos já com as
primeiras neves.
Quando chegámos a Baia Mare, vimos que
tudo aquilo é uma ciganada, cheia de prostitutas, camionistas, pubs manhosos
para se jantar e dormimos numa espécie de Motel, gélido e sem aquecedor. Ainda
tentamos o Western, mas cujo empregado, mentindo, nos diz “tenho o hotel cheio,
não vou ligar o aquecimento central apenas por uns clientes”. Assim é a Roménia. Juntámos 5 edredons, ainda
roubámos um e um secador de cabelo e pronto, fizemos compensar a péssima
estadia naquele sítio.
Muito melhor dormir na casa da
Adriana, em Sapanta, a verdadeira casa da senhora, com o aquecedor só para nós,
com uma casa à disposição. Só tenho pena de ter ofendido a dona da casa por não
gostar de ovos mexidos ao pequeno almoço...
De Baia Mare e com um GPS muito mau,
seguimos pelos caminhos, mais preocupados em apreciar a paisagem do que em
seguir roteiros. Parámos em Desesti, onde fomos visitar uma das igrejas de
madeira, património da Unesco. Linda. Toda arranjada por dentro. Esta zona do
país é conhecida por este tipo de arte sacra, que remonta aos séculos XVI a
XVIII. As igrejas são normalmente rodeadas por cemitérios, com um aspecto tão
agradável, simples e ordenado.
Mas as casas são estranhas. Se ao
longo de toda a Roménia, as pequenas vilas têm normalmente um tipo de habitação
uniforme – umas mais coloridas, umas mais modestas, umas com telhados típicos,
o que me impressionou, negativamente (para dar uma visão crítica) na zona dos
Maramures foi a miscelânia de casas modernas com casas rurais. Cores, padrões,
formatos e materiais. Nada joga com nada. Não sei, desiludiu-me. A Terra da
Madeira, como é chamada. A zona mais rural da Roménia. Parece que já foi
corrompida. Bem sei que apenas os conhecedores vão aos sítios mais certos, mas
esperava ver mais humildade nas pessoas, mais autenticidade nos costumes. Em
vez de tantas meninas vestidas de cor de rosa a ir e vir da escola e pequenas
mansões de pedra.
A paisagem não deixa de ser
deslumbrante, como quase toda a paisagem romena.
À vinda para Bucareste deixámos o
nosso destino nas mãos do manhoso GPS e voltámos pelo meio da região dos
Maramures na horizontal. Vimos tudo, e sim, valeu a pena. Como sempre.
Parámos para Macdonaldar que já não
aguentávamos de fome em Târgus Mures e essa sim, é uma cidade bonita –
edifícios antigos e imponentes. Com muitas ciganas, daquelas que se passeiam
pela rua Augusta a pedir, e a roubar... mas... Gostei.
Tive pena que metade do
caminho fosse feito já de noite, pois assim não nos compesou a volta enorme
dada pela orientação do GPS...Mas é a esquizo romena – agora anoitece num ápice
e é de dia quase quando já é hora de sairmos.
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