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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Thakhek, tá a levar



“Thão, khê?”… Sair das 4.000 Islands foi duro. Duro e quente. A achar que tinha escolhido o melhor lugar do Minibus, à frente e à janela, calhou-nos o motor, quente que nem fogo e o sol a escaldar-me a pele o tempo todo. Deixei uma poça, quando iniciou mais uma longa louca viagem, de autocarros pelo Laos. Alguns ficaram em Pakse, outros partiam para Bangkok, dando longos e sentidos abraços a quem tinham conhecido no autocarro e com quem tinham feito a amizade da vida em duas horas… Nós seguimos até uma bomba de gasolina. Supostamente chegaríamos ao destino pelas 17h30. Pois… Mas eram 16h e esperávamos à torreira do sol, sabe-se lá em que parte do mundo, pela carreira. Saiu-nos um autocarro jeitoso, mas ao novo estilo asiático, com paragem aqui e acolá, pessoas a amontoarem-se pelos assentos, gente que ia semi-sentada ao colo dos outros. Os motoristas, como diria o alemão sentado ao meu lado neste hostel, parece que param de hora em hora em casa da mãe para tomar a refeição. Numa paragem, todos os passageiros asiáticos ou os únicos dois europeus malucos para arriscar (não nós!), encheram as barrigas. Espetadas, não sei bem de quê, ovos cozidos e arroz. O cheiro no autocarro tornou-se peculiar, os arrotos foram constantes e houve um ou outro episódio de vómitos.
Chegámos a Thakhek eram 11 da noite. Tudo o que tinha comido nesse dia fora uma panqueca de banana ao pequeno-almoço, ainda em Don Det. Na estação de autocarros tínhamos o Motel, recomendado pelo barqueiro que nos vendeu os bilhetes de autocarro. Nem entrámos. Pagámos o tuk tuk mais caro da viagem e, de hotel em hotel, fomos batendo com o nariz na porta. Tudo estava cheio. Fomos parar ao Hotel Mekong, o mais caro onde já dormimos e também o pior. Cheios de fome e tristes, saímos à rua, à procura de algo. Tudo o que encontrámos foi gente bêbada à porta de um Clube de Karaoke, rulotes de comida a fechar e um restaurante que só servia sopa com umas carnes duvidosas. “somos vegetarianos”, alegámos nós, e saímos a correr, antes que um cão raivoso que nos ladrava incansavelmente, nos mordesse. Matilhas de cães com sarna lembraram-me os meus dias em Bucareste.
Com uma 7Up no estomago fomos dormir, e rápido para o tempo passar.
Às 5 da manhã fui despertada pelo incansável canto de um galo, agora o animal que eu mais detesto – a seguir às baratas, claro está!
Banho asiático, mochila às costas e a correr saímos da espelunca. O propósito da nossa vinda aqui foi as grutas, uma das maravilhas do Laos. Mas não encontrámos qualquer tour organizado e por isso, eram 7h30 e tínhamos uma scooter nas mãos, prontos para fazer 200 Km só de ida. O caminho é lindo, cercado de uma cadeia rochosa, onde de lés a lés encontramos modestas aldeias. Todos nos cumprimentam com um Sabaidee e um aceno. Vacas, porcas, cadelas e mulheres – todas acabaram de dar à luz? Só vemos rebentos por todo o lado.
Quase três horas depois, rabo e pés muito dormentes, chegamos à Konglor Cave. São 7Km por baixo das altas rochas, cheias de água. O passeio é escuro e faz-se de barco. Não sou amante de grutas, mas gostei. Não vi tarântulas ou morcegos e, apesar de ir receosa, o passeio fez-se bem. Cerca de 40 minutos depois saímos do outro lado, onde nos “forçam” a ir visitar a vila. Assim o fazemos, aproveitando para disparatar pelo caminho.
Mais um casal mais velho nos encontra e simpatiza connosco. Tem sido uma constante. Temos conhecido gente muito interessante. Um inglês, repórter da National Geographic, que fazia uma nova reportagem sobre o Angkor Wat, após uns 20 anos da primeira. Um casal também já mais velho, entre o australiano, inglês e jugoslavo – ela trabalha no Cambodja a ajudar os escritores de livros escolares. Uns cinquentões cheios de pinta, um dinamarquês ou o que era, que anda a viajar desde a Alemanha de mota. E todos nos apadrinham um pouco. Tem piada.
Voltamos a percorrer a gruta, desta vez mais rápido e mais emocionante. São 3h30 da tarde e urge que nos despachemos para fazermos o máximo da viagem possível à luz do dia.
No início do percurso a mota pára. Estamos sem gasolina e no meio de uma estrada onde ninguém nos parece querer ajudar. Um camionista lá nos dá meio litro de gasolina que nos chega para voltar atrás e comprar, numa das muitas tendas locais, uma garrafa de vidro e encher o depósito. O caminho é árduo. Enormes gafanhotos e libelinhas chocam contra a nossa cara e capacetes. O Kico morre de frio e começa a ser bombardeado de mosquitos. A minha barriga dói-me de uma forma louca e não vejo a hora de o caminho acabar. O perigo é enorme – malucos sem luzes, máximos que nos são apontados à cara, buracos, estradas que são cortadas por árvores caídas.
As costas doem, os pés doem, os joelhos queixam-se, as mãos estão dormentes. C’est complique.
Finalmente chegamos e só queremos comer e dormir. O jantar é picante demais e eu só penso no conforto do quarto (mudámos de hotel claro). Entro no quarto e fico desiludida. Não só é SUJO SUJO SUJO como tem osgas na parede. Uma colecção.
Mas com o cansaço conseguimos dormir até tarde e hoje, ainda de rabo dorido, dar apenas uma volta local e ver a magnífica paisagem e sentir a paz deste lugar.
E ainda… Realizei um dos meus sonhos! Vi um COLIBRI azul e cor-de-rosa.

Um comentário:

  1. “Thão, khê?" - 'tão mas é malucos!!! Santa inocência da juventude... Aproveitem porque, depois, quando viajarem a mochila será poisada aos pés de uma cama gigante, num hotel de 5*.
    Bêjos. Mãe e Tia Margarida

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