“Thão, khê?”… Sair das 4.000
Islands foi duro. Duro e quente. A achar que tinha escolhido o melhor lugar do
Minibus, à frente e à janela, calhou-nos o motor, quente que nem fogo e o sol a
escaldar-me a pele o tempo todo. Deixei uma poça, quando iniciou mais uma longa
louca viagem, de autocarros pelo Laos. Alguns ficaram em Pakse, outros partiam
para Bangkok, dando longos e sentidos abraços a quem tinham conhecido no autocarro
e com quem tinham feito a amizade da vida em duas horas… Nós seguimos até uma
bomba de gasolina. Supostamente chegaríamos ao destino pelas 17h30. Pois… Mas
eram 16h e esperávamos à torreira do sol, sabe-se lá em que parte do mundo,
pela carreira. Saiu-nos um autocarro jeitoso, mas ao novo estilo asiático, com
paragem aqui e acolá, pessoas a amontoarem-se pelos assentos, gente que ia
semi-sentada ao colo dos outros. Os motoristas, como diria o alemão sentado ao
meu lado neste hostel, parece que param de hora em hora em casa da mãe para
tomar a refeição. Numa paragem, todos os passageiros asiáticos ou os únicos
dois europeus malucos para arriscar (não nós!), encheram as barrigas.
Espetadas, não sei bem de quê, ovos cozidos e arroz. O cheiro no autocarro
tornou-se peculiar, os arrotos foram constantes e houve um ou outro episódio de
vómitos.
Chegámos a Thakhek eram 11 da
noite. Tudo o que tinha comido nesse dia fora uma panqueca de banana ao
pequeno-almoço, ainda em Don Det. Na estação de autocarros tínhamos o Motel,
recomendado pelo barqueiro que nos vendeu os bilhetes de autocarro. Nem
entrámos. Pagámos o tuk tuk mais caro da viagem e, de hotel em hotel, fomos
batendo com o nariz na porta. Tudo estava cheio. Fomos parar ao Hotel Mekong, o
mais caro onde já dormimos e também o pior. Cheios de fome e tristes, saímos à
rua, à procura de algo. Tudo o que encontrámos foi gente bêbada à porta de um
Clube de Karaoke, rulotes de comida a fechar e um restaurante que só servia
sopa com umas carnes duvidosas. “somos vegetarianos”, alegámos nós, e saímos a
correr, antes que um cão raivoso que nos ladrava incansavelmente, nos mordesse.
Matilhas de cães com sarna lembraram-me os meus dias em Bucareste.
Com uma 7Up no estomago fomos
dormir, e rápido para o tempo passar.
Às 5 da manhã fui despertada pelo
incansável canto de um galo, agora o animal que eu mais detesto – a seguir às
baratas, claro está!
Banho asiático, mochila às costas
e a correr saímos da espelunca. O propósito da nossa vinda aqui foi as grutas,
uma das maravilhas do Laos. Mas não encontrámos qualquer tour organizado e por
isso, eram 7h30 e tínhamos uma scooter nas mãos, prontos para fazer 200 Km só
de ida. O caminho é lindo, cercado de uma cadeia rochosa, onde de lés a lés
encontramos modestas aldeias. Todos nos cumprimentam com um Sabaidee e um
aceno. Vacas, porcas, cadelas e mulheres – todas acabaram de dar à luz? Só
vemos rebentos por todo o lado.
Quase três horas depois, rabo e
pés muito dormentes, chegamos à Konglor Cave. São 7Km por baixo das altas
rochas, cheias de água. O passeio é escuro e faz-se de barco. Não sou amante de
grutas, mas gostei. Não vi tarântulas ou morcegos e, apesar de ir receosa, o
passeio fez-se bem. Cerca de 40 minutos depois saímos do outro lado, onde nos
“forçam” a ir visitar a vila. Assim o fazemos, aproveitando para disparatar
pelo caminho.
Mais um casal mais velho nos
encontra e simpatiza connosco. Tem sido uma constante. Temos conhecido gente
muito interessante. Um inglês, repórter da National Geographic, que fazia uma
nova reportagem sobre o Angkor Wat, após uns 20 anos da primeira. Um casal
também já mais velho, entre o australiano, inglês e jugoslavo – ela trabalha no
Cambodja a ajudar os escritores de livros escolares. Uns cinquentões cheios de
pinta, um dinamarquês ou o que era, que anda a viajar desde a Alemanha de mota.
E todos nos apadrinham um pouco. Tem piada.
Voltamos a percorrer a gruta,
desta vez mais rápido e mais emocionante. São 3h30 da tarde e urge que nos
despachemos para fazermos o máximo da viagem possível à luz do dia.
No início do percurso a mota
pára. Estamos sem gasolina e no meio de uma estrada onde ninguém nos parece
querer ajudar. Um camionista lá nos dá meio litro de gasolina que nos chega
para voltar atrás e comprar, numa das muitas tendas locais, uma garrafa de
vidro e encher o depósito. O caminho é árduo. Enormes gafanhotos e libelinhas
chocam contra a nossa cara e capacetes. O Kico morre de frio e começa a ser
bombardeado de mosquitos. A minha barriga dói-me de uma forma louca e não vejo
a hora de o caminho acabar. O perigo é enorme – malucos sem luzes, máximos que
nos são apontados à cara, buracos, estradas que são cortadas por árvores
caídas.
As costas doem, os pés doem, os
joelhos queixam-se, as mãos estão dormentes. C’est complique.
Finalmente chegamos e só queremos
comer e dormir. O jantar é picante demais e eu só penso no conforto do quarto
(mudámos de hotel claro). Entro no quarto e fico desiludida. Não só é SUJO SUJO
SUJO como tem osgas na parede. Uma colecção.
Mas com o cansaço conseguimos
dormir até tarde e hoje, ainda de rabo dorido, dar apenas uma volta local e ver
a magnífica paisagem e sentir a paz deste lugar.
E ainda… Realizei um dos meus
sonhos! Vi um COLIBRI azul e cor-de-rosa.
“Thão, khê?" - 'tão mas é malucos!!! Santa inocência da juventude... Aproveitem porque, depois, quando viajarem a mochila será poisada aos pés de uma cama gigante, num hotel de 5*.
ResponderExcluirBêjos. Mãe e Tia Margarida