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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Pink City e ser famosa por um dia

Há duas noites que não durmo, depois de dois dias doente, por isso é provável que este post saia uma tremenda bagunça.
Ontem sentia-me um pouco melhor e apanhámos um (semi) local bus de Pushkar para Jaipur. Aquela cidade já estava mais que vista, revista e a mim só me faltava levar com um cocó de macaco na cabeça para completar o enxoval. Ainda assim, foi por um triz que não levei com uma escarradela de uma velhota à janela de um autocarro. Depois de quase termos sido chulados pelo dono da nossa Guest House, que queria meter ali umas 900 rupias extra, sem que nós tivéssemos dado conta, o pequeno pushkarra levou-nos (aflito com a nossa mala - cheia de lembranças indianas - passando-a de uma mão para a outra) até à estação de autocarros.



Se é que aquilo se pode considerar uma estação - porcos, vacas, mercadores ambulantes - tudo acontece e, com muitas horas de atraso, algumas paragens e demoras pelo caminho, um grupo de pré-adolescentes indianos no auge e umas idas a casas de banho improvisadas depois, aterrámos em Jaipur. Tínhamos serviço de pick-up de uma guest house, mas quando lá entrámos era de fugir e foi o que fizemos, até à do lado, idem idem aspas aspas (até milho havia nos ralos das banheiras) e decidimos cometer uma loucura e pagar 20 euros por um quarto, num hotel com óptimo aspecto, decorado como... como só na Índia! Aliás, só no Rajastão mesmo. Elefantes de porcelana saem-nos da parede e a olhar para nós enquanto dormimos termos um Marajá e uma bela princesa a tomar conta de nós. Um luxo de primeira: quando fui inspeccionar a casa-de-banho (coisa que toda a gente estranha muito) gritei: TEM POLIBAN! E foi quanto bastou para que o Kico concordasse com o Pearl Palace!




O Pearl Palace era mesmo muito confortável, limpo, com ar condicionado (ligado no quentinho) e, de rickshaw não fica longe do centro. Com um banho tão quente, que o difícil era pô-lo morno... Totalmente aconselhado!! 
Na recepção estava uma rapariga que só podia ser portuguesa - os traços, o tamanho, o inglês com aquela pronúncia. Comentei com o Kico. Ele não ligou, fomos para o quarto e quando descemos de novo, ele diz:
- Oh, Olá Joana (como só ele).
Jantámos no roof top, no Peacock Restaurant, muito famoso e também muito mais caro do que o normal, mas onde havia fogueira e muitas e fofinhas mantinhas (limpas!) Ai, como foi bom voltar à normalidade... falar português, sem ser um com o outro, ver pessoas lavadas... Sentimo-nos novamente enquadrados. Já não havia conversa de rootsbackpackers sobre o poder da mente e shantisices, filhos de hippies (esses nada chiques) a tirar piolhos aos meninos da rua, e assim,  durante uma hora fomos super felizes. O Kico considera que aí comeu as duas melhores refeições de toda a viagem (um chicken tandoori e, umas nada indianas, fajitas).
A Joana resumiu-nos a viagem toda, deu-nos todas as dicas do que fazer em Jaipur e assim, no dia seguinte bem cedo acordámos para ir varrer aquilo de ponta a outra.
Eu gostei bastante da cidade - outra vez um caos de trânsito, buzinadelas que até nós apitamos, gente a empurrar, escarradelas em todo o lado e um forte odor a mijo. Agora que penso nisso, foi de facto Jaipur o primeiro sítio onde me senti incomodada com os cheiros. Mas talvez por estar mais sensível...
Parece que respiramos encostados a tubos de escape ou que vivemos no acampamento do sudoeste. O pó é tanto que, ao lavar a roupa, a água saia tão cinzenta que pareceu-nos o mesmo que dar banho a um menino de rua. O nariz chega ao fim do dia bem castanho e dói-nos a garganta. Acho que foi o suficiente que o nosso corpo quis aceitar e no final do dia, considerámos a cidade vista.
De manhã, pegámos um rickshaw e fomos até ao Jantar Mantar (ou como chama o Kico, ao jantar de Natal), que é basicamente um jardim museu de instrumentos astrolábios inventamos por um Rei de Jaipur.
Eu não lhe liguei grande coisa - aproveitei mais as vistas do que outra coisa qualquer, mas o Kico estava obcecado em tentar perceber como é que eles podiam calcular altitudes, latitudes ou sequer saber as horas com aquelas construções monstruosas. Porém, nem mesmo tentando escutar os guias pagos pelos outros, ele se safou e, depois da selfie numa cena dos sagitários, seguimos viagem.


Os sagitários são cool.

Passámos no City Palace, mas não comprámos bilhete (somos um bocado fonas...) e pagámos 80 rupias para ir ao Hawa Mahal - mas ao fim de cinco minutos o Kico já só dizia same same, bora!
Mas é incrível - vale muito a pena. O palácio fica no meio de ruas, com edifícios cor-de-rosa, que são basicamente vários bazares por todo o bairro. É uma loucura. Por aqui não há tantos turistas e então somos presas fáceis. Mal nos vêem, param de dormitar e convidam-nos a ver os seus produtos. O problema é que é loja ao lado de loja, ou seja, passámos em um milhão e às tantas parámos de agradecer, de responder ou sequer de sorrir. Ainda assim é difícil não nos perdermos no meio de tanta coisa - pulseiras coloridas, jóias, pedras semi-preciosas, sapatos indianos, especiarias. É um festival de cores, no qual o dress code é um bigode farfalhudo e um turbante colorido. É simplesmente indescritível e sem dúvida que, na minha memória, fica como a lembrança do Rajastão.

Por acaso, ali deu-nos a fome e não havia grande escolha... Assim, parámos num qualquer (eu já havia comido bananas...) e o Kico pediu o naan... saboroso, pela manhã. 




De rickshaw fomos até ao Amer Fort, de passagem, para não perdermos o sightseeing, achávamos nós. Mas a partir do momento em que nos começámos a aproximar, fomos vendo que aquilo era totalmente imperdível! Prometemos ao condutor do rickshaw que não comprávamos bilhetes e achávamos que só íamos poder ver cá de baixo. Contudo, dá para subir a pé até ao topo - demoram-se uns dez minutos e vale MUITO a pena.
Foi aí que tive os meus dez minutos de fama. Duas crianças que para lá andavam a tirar fotografias com o telefone um ao outro, pararam e pediram-me para tirar uma com um deles. Ok, está bem, bora lá!
Seguimos. Eles seguiram-nos - eu achei que eles ficaram apaixonados por mim! E depois o outro também quis uma fotografia comigo. Às tantas dei por mim rodeada de crianças, empurradas pelos pais, para tirarem uma fotografia com a pálida... Não sabia se ria, se chorava. Então optei por dizer cheese - e a esta hora no facebook de uns quantos indianos pára a minha fotografia, com a pele toda ressentida desta cidade.



Após o show, voltámos para o rickshaw, passámos no Jalmahal e no Central Museum, só para dar uma vista de olhos.

Ainda fiz de fotógrafa, num grupo que deve ser mais popular do que eu.



Almoçámos num restaurante aconselhado pela Joana, o LMB, muito fancy e indicado em todos os guias, Um senhor de bigodes grandes e turbante na cabeça abre-nos a porta da pastelaria. Um outro, nos mesmos preparos, abre-nos a porta do restaurante. Lá dentro 20 empregados aguardam ansiosamente a nossa chegada. Somos encaminhamos para uma mesa qualquer no meio da sala, fazemos o nosso pedido e eu decido ir à casa-de-banho. Quando lá chego, fico desanimada e então decido só a usar para lavar as mãos. Mais tarde, preciso MESMO de lá ir - ohhh, it is closed madame. No toillete.
- Então, mas estão-me a gozar ou quê? O restaurante mais caro aqui da região e não têm uma casa-de-banho, nem que seja um buraquinho no chão?
O dono do estabelecimento viu o meu descontentamento e, pessoalmente, encaminhou-me ali ao hotel do lado. Lá fui eu, com o meu pacotinho de lenços de papel, que todos eles olhavam a tentar perceber o que seria, subi a um quarto (já "limpo"), usei o wc e saí. Se eu fiz isto quantas mais pessoas não fazem o mesmo? Agora o próximo cliente vai achar que tinha uma casa-de-banho toda perfumada e desinfectada para ele, mas já lá passou uma sara virtuoso para fazer um xixizinho. Acho que esse é o truque, passar o pano, sacudir os cabelos e, txaran, aí tens um hotel de três estrelas.

Voltámos completamente estafados de tanta actividade e jantámos no Peacock. Achei por bem pedirmos um chá, que já tínhamos visto várias vezes por aí - água quente com limão, gengibre e mel (mas muito gengibre ou muito limão, ou muito dos dois). De tão mau que era, limpou-nos a goela e foi assim que deixámos o nosso querido Rajastão.

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