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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"Para um autêntico livro de viagens, não creio que se consiga fazer um trabalho verdadeiramente minucioso posteriormente, se o escritor andou a viver como bem quis durante o tempo em que se propôs escrever acerca disso, sem tomar notas, sem ter consciência da sua função enquanto instrumento de recepção. A memória imprecisa das suas próprias respostas emocionais é sempre mais forte do que a memória exacta daquilo que as causou. A confiança na rememoração é adequada para determinar a substância de um romance, mas não neste caso, em que é demasiado provável que ela altere a firmeza da textura da escrita.
O escritor tem de tomar a decisão de aderir a uma honestidade escrupulosa no relato. Qualquer distorção consciente equivale a fazer batota numa paciência de cartas; o objectivo do jogo é anulado. O relato deve estar tão perto da verdade quanto possível, e parece-me que a maneira mais fácil de conseguir isso é visar-se a perfeição ao descrever as nossas próprias reacções. Um leitor só pode ter uma ideia de como é realmente um lugar se souber quais foram os efeitos deste sobre alguém de cujo carácter ele já tenha alguma ideia, ou de cujas preferências ele esteja ciente."

Paul Bowles 

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