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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Muita calma convosco


“It's not enough that we do our best; sometimes we have to do what's required.”
Winston Churchill.

Chegou a altura em que estamos em plena contagem descrescente, a pique. Começo a ouvir (não a ouvir, mas sim a ler) as conversas preocupadas dos outros estagiários, preocupados com o que irão fazer daqui a dois meses. Ninguém sabe mas também ninguém ajuda. Todos, os que ficaram e provavelmente nunca terão coragem para ir a lado nenhum, nos dizem: “pensa bem se queres voltar, isto está muito mau. Pensa em planos B, C, D e até E. Estamos em crise"
E estamos em crise é a frase preferida que todos usam para se desculparem por não fazerem nenhum. Tudo bem, eu sei, é difícil, uns têm mais oportunidades que outros, uns nasceram com o rabo (desculpem!) virado para a lua, outros não têm ao que se agarrar. Mas a verdade é que é preciso ter garra, energia e vontade. E fechar os ouvidos quando nos dizem (e sim mãe, esta também é para ti) que isto está mau e vai ficar muito pior.
Mas só quem se esforça, quem vai à luta, quem tem planos e objectivos é que percebe - fazer o nosso melhor não chega. Vivemos sob aquilo que todos querem que façamos.
Sinto isso cada dia mais. A minha vinda para cá não foi inicialmente bem vista. E o destino pregou-me uma partida: "não querias tanto ir? Então agora porque é que não estás feliz?".
Pois é, mas é que as coisas nem sempre correm como nós imaginamos ou como gostávamos que fossem. E de facto, há os que se contentam com tudo e os que se contentam com o melhor.

Tenho recebido inúmeras críticas por ser uma crítica. Sou. Assumo. E até gosto. Chamem-me sádica, mas há coisas que me dão gozo. Mas sou-o por uma razão - sou animal racional, penso sobre as coisas, sou observadora e sou sonhadora. Não me adapto só por me adaptar, só para sobreviver. Acredito que estou no mundo sobretudo para viver a vida. Não apenas para passar o tempo, para ter um trabalho aborrecido e para agradar a quem quer que eu agrade. Aliás, essa não é mesmo a minha natureza – o que me dá sempre problemas. Se calhar por isso mesmo, uma das razões para estar aqui e não em Macau ao pé de amigos meus...

Sou assim, é complicado. Pois é. É bem mais difícil do que dizer que "com duas birras na mão e anima-se-me o coração" (gostaram desta frase, confessem!). Porque essa não sou eu. E quem me conhece já o sabe. E valoriza até. Basta ver a diferença entre aqueles que sabem quem eu sou, que aceitam e me imaginam a falar a mil à hora a dizer que isto assim não pode ser e nem imaginas o que aconteceu, e nem podes acreditar que isto é assim ou assado. E sorriem a imaginar a neta, filha, irmã, amiga, prima, sobrinha ou namorada que sou.

Depois há os que se identificam e também compreendem e não criticam que eu critique (boa antítese ainda para mais...que incoerência).
Mas de facto ser honesta, ser pura e ser sincera custa-nos caro. Um comentário, que de malicioso tem pouco ou nada e cai o carmo e a trindade. Interiorizem: não temos todos a mesma visão da vida, as mesmas expectativas, os mesmos laços afectivos. Eu espero tudo. Assim como, quando faço, gosto de fazer tudo. Penso em grande, vivo em grande. Mas não me chateia quem não é como eu, quem não tem os mesmos objectivos e as mesmas visões. Sobretudo, gosto de fundamentos. E não suporto que me critiquem porque eu "me queixo". Eu não me estou a queixar de nada. Estou a dar a minha visão de uma fase da minha vida. Estou a exorcizar algumas coisas que me custam. Estou a descrever aquilo que a minha alma vê. Porque é que só sabem comentar quando é negativo? Quantas coisas boas eu já vivi na Roménia e as disse? Não pinto tudo negro, não "desgosto" de tudo, mas tenho a MINHA visão. Ser-me-á permitido?
A propósito, li hoje um texto incrivelmente bem escrito, poético até, sobre uma visão de uma passageira de Bucareste. Era bonita a maneira como ela falava da sua fealdade...e, mais uma vez, caiu-lhe tudo em cima. Que é preciso descobrir a cidade, que ela não conhece nada. Claro que sim. Acredito piamente que esta cidade tenha imenso para oferecer. Mas também vos digo: também é preciso descobrir as pessoas.



Acordei a pensar na Roménia
 
A Roménia não foi feita para corações frágeis. A pobreza aninhada nas suas ruas e esquinas, crianças que dormem nos candeeiros de um casino, aleijados...  Os edifícios encardidose sujos parecem esconder um passado vitorioso, que nada tem a ver com a nudez e declínio de agora.
Sua gente a caminho entre o oriente e o ocidente, são um misto de roupa foleira e fora de moda agitados com tristeza com um fundo laranja e amarelo fluorescente. Recém saídos do largo domínio de Nicolae Ceausescu as dificuldades económicas impediram o desenvolvimento deste país.
...
Em Bucareste, as calçadas são irrecuperáveis, com buracos e quebradas dos lados.aspessoas estão perdidas em desconforto e os seus costumes sociais, completamente oxidados. Os táxis de cor amarelo brilhante, conduzem acelerados esperando que um viajante decida subir. Os seus olhares são passivamente tristes, não lhes interessa estabelecer uma conversa, e os seus revistimentos decifram podridão.
Bucareste é uma cidade de extremos, ou te asfixias no verão ou morrer de frio no inverno. Nas primeiras horas da manhã de verão oar acaricia-televemente antes que a cidade se converta numa espessura de calor. É uma cidade de vidas sombrias, corpos inertes desfilam nestas ruas com rostos perdidos.

Os autocarros são brancos. Se te metes pelas ruas secundárias, entras numa cidade fanstama com fios emaranhadose caidos.  As baratas são as rainhas da noite, juntamente com as mulheres da vida.
O nível de vidaé baixo em comparação com o do resto da União Europeia por causa do seu estanqueamento político e cultural que acabou com a morte do seu opressor em 1989.
 
É uma cidade bela quando entaderce, quando as pombas voam de um lado para o outro dos edifícios, fazendo com que toda esta decadência se converta numa proporcionada  beleza.
 
Se quiseresposso continuar com a Roménia, mas vai aborrecer-te também....
 

leyre letorre
(tradução de espanhol – português feita por mim).

Nem a propósito, apanhei um taxista mesmo simpático, com ascendência de Sibiu mas nascido em Bucareste. Explicava as diferenças e como não entende como é que Bucareste se tornou assim... que 80% das pessoas são de fora (romenas ou não) mas que isto se tornou na pior mistura possível. Que é difícil para ele aqui morar. Enfim, uma simpatica. Eis se não quando vou a pagar e não tenho troco e ele muda completamente o humor, fica transtornado... até tive medo... Assim é Bucareste...

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