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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Viver sozinha é...



é muito estranho, por vezes.

É chegar a casa e estar aquele silêncio sepulcral que sabe bem nos primeiros cinco minutos, após tanto ruído na rua, tantos risinhos irritante no open space do escritório, tanta confusão babilónica, com esta linguagem que roça o chinês nos dias cansados. O silêncio começa a trazer pequenos ruídos. Pensamos que somos nós, é um prato a secar no lava loiças que se desequilibra, é um vizinho que nos transmite algo através das finas paredes. Passamos para a imaginação. Será que há ratos? Baratas? Outros bichos? Será que a madeira está podre e o armário vai cair? Será que no momento em que voltei a casa porque me esqueci do telefone e deixei a porta aberta alguém entrou e se escondeu em algum lado à minha espera? É paranóia momentânea. Depois é 100% tempo para mim - o que implica ser eu zinha a ter que limpar, lavar, cozinhar, arrumar,...ou deixar tudo na bagunça. É não conseguir dormir uma noite seguida, mesmo depois de um chá e dois Victan, de uma série e de muita leitura.  É acordar a meio da noite e não perceber bem como estou tão na ponta que posso cair do beliche... Ah! Não...eu não estou no beliche de Lisboa, mas também não estou na cama de madeira, em Santiago... Ah...estou em Bucareste numa cama óptima e enorme só para mim. É sorrir e ficar feliz e tentar adormecer de novo. Mas não, de tanto chá, é vontade de ir à casa de banho, esperançosa de quando calço os chinelos não esteja lá a amiga cucaracha à espera para eu a espezinhar. É entreabrir a porta devagar porque agora há umas centopeias que gostam de lá estar... é olhar em redor, olhar para a banheira e fazer rapidamente o que há a fazer e voltar a correr para a cama porque o frio já aperta. É acordar com o raiar do sol e pensar que ainda é madrugada e o barulho que ouço é o normal da mãe, que acorda tão cedo e está já a preparar o seu Nescafé. Mais uns segundos para realizar: não está cá ninguém. Sou só eu. É dizer em voz alta, vá Sara, levanta-te. É comer o pequeno almoço na cama, na companhia de um computador. É falar sozinha enquanto me despacho ou ouvir um pouco de música. É olhar para todo o lado, verificar que não esqueço o saco do lixo, que não deixo nenhuma luz acesa, que tranco as portas, que trago as chaves comigo.

Viver sozinha é não ter de dar o bom dia a boa noite um sorriso, não ter de esconder o mau humor uma lágrima fingir que como ou deixar tudo arrumado. É saber o que há no frigorífico para comer e o que não há e quando não há não esperar que alguém o vá comprar. É saber que se está sujo, é porque fui eu. Se desapareceu, foi porque eu perdi. Ou escondi algures. É aprender a ter o meu espaço, o meu silêncio, a dançar quando quero onde quero, como quero. A cantar aos berros porque a vizinha é surda. A andar vestida ou despida como quero. É uma despreocupação, recheada de ansiedades e receios.
Sem dúvida, vou ter muitas saudades.

4 comentários:

  1. registado. bj grande da mami

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  2. Tão difícil, para mim, essa opção... A necessidade de partilhar, de ouvir, de falar; de trocar impressões com o outro da música que ouvimos, do filme que vimos, do livro que acabámos de ler, até das fofoquices que possam circular... Ter um ombro que nos seque a lágrima,alguém que nos diga que desafinamos quando cantamos, o que não impede que cantemos, ter "alguém" amigo ao nosso lado!

    Avó

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  3. revejo-me TANTO, Sara!

    ;)

    Catarina Rosa

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  4. como te percebo :)
    mas olha que também é bom partilhar com aquela pessoa especial!
    beijinhos*

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