Não há forma de descrever o que é
a Índia. Não há palavras que contem tudo, nem há imagens que retratem o que se
vê a todo o momento, em qualquer lugar. Todos os detalhes contam, para viver
esta experiência.
É a viagem mais pessoal que já
fiz. Aquele clichê do ou se adora ou se
odeia nem me faz sentido. Cada dia é vivido de forma tão diferente, em
lugares tão diversos. As pessoas são diferentes em cada local que passamos, a
comida não se repete, os episódios isto-não-aconteceu-agora-e-aqui
são sempre únicos.
O sul da Índia, para mim,
revelou-se mais apaziguador e mais charmoso do que o Rajastão ou Varanasi, esses tão ricos em
cores como em emoções.
Aqui, encontro como que uma mistura de locais onde já estive, Tailândia,
Maputo, Macau, Brasil... Sinto uma certa reminiscência da Roménia (?) e, claro,
vejo muito Portugal, com um toque britânico. Talvez isso explique a nostalgia
de um lugar onde nunca estive. Poderá ser porque tudo parece de brincar? Os
autocarros antigos, azuis, brancos, vermelhos, amarelos, cor-de-rosa, com
bancos duros, janelas abertas e apinhados de gente a espreitar para a rua. As
ambulâncias, que parecem da Playmobil, brancas com cruzes encarnadas. As casas,
que são grandes, pequenas, baixas, quadradas, sempre cheias de flores, e de todas as cores, que
parecem ter sabores (menta, uva, lima-limão, coca-cola, chocolate, morango, laranja)
com os seus portões convidativos, cadeiras de baloiço com senhoras idosas à sobra dos coqueiros e eucaliptos que as resguardam de quem passa na estrada. Os camiões, geralmente da Tata, no quais a
imaginação de um camionista desafia qualquer criativo: uns são pequenos altares
ambulates, mensageiros da palavra divina, com frases inspiradoras ou agradecimentos,
outros parecem vibrantes carroceis, com luzes, cores, prateados... Os táxis, as
mini-mini vans, que às vezes também
fazem de ambulância, o carro da polícia, o próprio polícia. As igrejas, que nos surgem a cada
quilómetro, de todos os feitios: muitas ao estilo português,
outras imponentes edifícios modernos, altares de beira de estrada, santos em
vitrines e pequenas e cromáticas capelas. Uma cruz no alto de uma igreja de cor
rosa choque? Eu já vi e foi na Índia. Mas ainda se encontram, aqui e ali, como que perdidos, os templos dedicados aos diversos Deuses hindus. As buzinadelas são menos audíveis. Não há o chinfrim de Jaipur, que nos estonteava na estrada. Por isso, aqui, na estrada, há que abrir bem os olhos e ter muita perícia. E, claro, muita calma, pois tudo acontece, ainda que lentamente.
A forma das pessoas abanarem a cabeça, de
um lado para o outro, como se tivessem um pescoço invertebrado, lembrando os
Doraemon de plástico que os chineses têm no capot dos carros. É forma
de dizer sim, mas que, especialmente, quando feito sem expressão facial, nos deixa sempre na dúvida. Todos
querem saber where are you from –
chegam a parar no trânsito só para perguntar. Ao Kico, sobretudo após três dias
de praia, perguntam de que parte da Índia vem (sim, já foram pelo menos 10
pessoas – eu contei): Goa, Cachemira? Não, Portugal. Uns dizem um simples ok Portugal, porque nem sabem onde é,
outros ficam felizes Nice country. Há
quem já conheça a nossa crise (Antigamente
vinham mais portugueses. Agora há poucos. No money, no funny, no honey) e
outros conhecem a nossa língua, respondendo-nos em português. Isso sabe-nos
bem, faz-nos sentir em casa.
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