Após 12 estafantes horas, num comboio cheio de
acção, onde eu ia colada à porta que dava para a casa-de-banho, que emanava um
cheiro nauseabundo, entre conversa de chacha com um indo-britânico e uma
francesa que claramente teve um desgosto amoroso e veio curá-lo na Índia,
finalmente chegámos a Margão. O Pradip, o primo do Joaquim, telefonou-nos e
combinou que nos ia apanhar na estação. Seja porque o Joaquim não explicou bem
ou porque simplesmente nós não ouvimos com atenção, a verdade é que achámos que
o Pradip era um miúdo de 20 anos (aliás, quando abrimos a fotografia do
Whatsapp confirmámos que era aquele ali
com os pais) e por isso, quando um carro branco parou à minha frente com um
senhor grisalho ao volante, fiquei meio desconfianda.
- Sara?
Hello, I am Pradip.
Após 5 minutos muito confusos, engolimos o nosso
orgulho e confessámos que tinhamos tido todo aquele à-vontade nos telefonemas e
mensagens trocadas, porque achámos que estávamos a falar com alguém da nossa
idade. Oh, that is Zahir!
Aqui seria a nossa residência nos próximos dez dias: uma casa linda com
mais de 300 anos de idade, enorme e toda recheada de loiças e móveis de todo o
género e lugares. Se esta casa fosse uma
loja, eu vinha cá comprar imensos móveis para mim!
Um quartinho à maneira, com uma casa-de-banho
exterior – confessemos, repleto de mosquitos – e a melhor recepção que já
recebi em casa de estranhos. A única explicação que me ocorre é que as casas
antigas de Goa foram desenhadas para que a família aí vivesse toda junta, e
hoje na casa de Peregrino D’ Costa são só quatro. Imaginem lá, minhas
irmãzinhas, cunhados, sogrinhos, mãe, avó, Preciosa – todos na mesma casa,
hein? Isso é que ia ser giro! (?)
Temos sido muítissimo (mas muito mais do que
estávamos à espera!) bem tratados e, sobretudo, bem alimentados (faz de conta
que dois meses para perder peso é muito!) A Aileen, mulher do Pradip, cozinha
que é uma maravilha e a Tia Blanche é de uma atenção amorosa! Sempre
preocupados connosco e com o nosso bem-estar, esta família adoptou-nos
completamente. Ao início foi constrangedor, não viemos para dar trabalho mas
temos vindo a aceitar que, de facto, culturas diferentes talham diferentes
maneiras de ser e esta é tão especial! Não temos forma de agradecer e por isso
fazemos o nosso melhor, que é aproveitar e apreciar tudo o que tem acontecido.
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