A casa da Tia Blanche fica em
Navelim, perto de Margão. Acordámos cedo e apanhámos o autocarro local para o
mercado (Old Market). A experiência
do meio de transporte foi gira porque só durou cinco minutos e porque no rádio
tocava uma música indiana. O mercado pareceu-nos uma
loja-do-chinês-em-ponto-XXL-e-indiana e, por isso, tentámos explorar um pouco
mais do centro da cidade. Fomos a pé, pelo meio da confusão do trânsito (onde,
por um triz, eu não fui atropelada por uma mota – que isto de os carros
circularem ao contrário, de vez em quando confunde-nos) até à Igreja do
Espírito Santo. De estilo português, no meio de uma praça com casas coloniais
de cair para o lado, e com o altar pintado a ouro, a igreja acolhe diariamente
casamentos cristãos. Na mercearia em frente, o senhor fala português e, por
momentos, parece que não estou na Índia. Mas estou. Só que é uma Índia
diferente de tudo o que já tínhamos visto. Porque aqui o tempo não passa e
parece que Udaipur foi noutra viagem, a outro país, em outras alturas. E isso é
incrivelmente agradável.
Também o Shiva, que alugava
bicicletas na estrada para a praia de Benaulim falou português.
Em casa, nas conversas com a
nossa família, misturamos o inglês com o português, enquanto nos deliciamos com
os repastos e contamos a todos tintin-por-tintin como foi o nosso dia, o que fizemos, o que comemos e quanto pagámos por tudo.
O domingo é o único dia da semana de
descanso para os goeses e o Pradip e a Aileen trocaram uma sorna debaixo da
ventoinha por uma visita guiada às redondezas. Ao som de música Country, que depois foi trocada por
baladas românticas dos anos 80, todas trauteadas pela melodiosa voz da Aileen,
o Padrip guiou até a um templo com um lago mágico.
Isso mesmo, mágico. É que cada vez que se batem palmas, a água responde em forma de bolhas. É incrivelmente estranho, ainda não foi encontrada explicação científica (que se conte aos crentes, pelo menos), não tem turistas e nem se encontra sem se conhecer.
E porque
aqui muitas coisas miraculosas acontecem, parámos, ainda no caminho para Palolem, na
Igreja da Cruz dos Milagres, onde uma numerosa família repetia incessantemente
umas ladainhas a várias vozes e pedia algo com muita fé. Divina
é, essa sem sombra de dúvida, a vista lá em cima.
Terminámos o nosso dia visitando Old Goa e a sua Sé Catedral e a Igreja
de Bom Jesus. Muitos turistas indianos, casais em lua-de-mel e celebrações de
missas interditas a estrangeiros, resultaram numas rápidas fotografias, umas
lambidelas nuns gelados para refrescar e um lanche em Panjim. Estupidamente,
não tínhamos ainda provado Masala Dosa
e ficámos encantados!
E porque achámos Palolem mais bonita que Benaulim, alugámos uma scooter e fomos para lá.
A estrada de Margão para Palolem
está em óptimas condições e o caminho vale a pena. O cheiro a natureza
inunda-me os pulmões e o toque a hortelã-pimenta faz-me sorrir e querer levar
os cabelos ao vento. Mas a prudência do Kico e a condução desta gente toda,
obriga-me a conservar umas calças compridas, uns ténis e um capacete
pesadíssimo.
Já na praia, os preços fazem-nos desistir das cabanas em frente ao
mar e procuramos outro sítio para dormir. Mesmo na rua paralela encontramos uns
bungalows às cores, novinhos em folha
e muito baratos. Assim, passamos a noite no Sea Shades Cottages. A noite foi
bem recebida, porque o final da tarde foi passado a remar – eu numa prancha de
Stand Up Surf e o Kico numa canoa. Vale a pena, os preços são acessíveis e o
mar é super tranquilo. A perspectiva da praia, vista do mar, é absolutamente
encantadora e a canoa permite-nos ir até às praias desertas. Porém, as tentativas de
subir para uma rocha e tirar umas fotografias foleiras terminaram mal para mim,
resultando num pé todo cortado pelas conchas e na enorme dificuldade em andar
de havaianas.
Diz-se por aí que o pôr-do-sol de
Goa é dos mais bonitos do mundo e nós temos que concordar. Apesar de não ser
verão, mal o sol cai junto ao mar, o céu fica com uma incrível cor laranja que nos faz acreditar que o dia seguinte será quente. E porque sempre o é...
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